Sobre Estudar Filosofia

Comecemos do princípio. O termo Filosofia quer dizer amor à sabedoria. Chega um ponto em que o homem percebe que nem todas as ideias são iguais, e que existe algo de especial em certas ideias. Mais cedo ou mais tarde, descobre-se também um gosto por possuir as ideias mais verdadeiras, e um gosto também pelo processo pelo qual essas ideias são descobertas.

E ao refletir sobre o assunto percebe-se que o homem pode fazer várias coisas: ele é firme e persiste, mas não como uma montanha, ele até cresce e vive bastante, mas não como uma árvore, ele até se mexe, mas não tão graciosa e ferozmente como um tigre, e por aí vai… Ele faz de tudo um pouco, mas em quase tudo o que faz, encontra um animal que o faz de maneira mais apropriada. Exceto em duas coisas: somente o homem conhece, e somente o homem é livre. E a expressão máxima do conhecer é conhecer verdadeiramente aquilo de mais elevado, e o máximo da liberdade é o amor, e, juntando tudo temos a Filosofia: o amor por conhecer verdadeiramente. O amor pela sabedoria.

E pare que ninguém ache que a expressão máxima do ser humano é uma forma rasa de conhecimento técnico, devo aqui acrescentar que Sabedoria inclui muito mais do que saber fazer qualquer coisa em particular. Trata-se de em cada situação ser capaz de considerar todos os fatores, determinar os primeiros princípios, elencar aqueles princípios que dominam uma situação, e tomar a atitude correta, segundo a vontade de Deus. Além disso, a expressão máxima da Sabedoria é o Cristo - o Verbo de Deus. Ainda que os gregos não o conhecessem, ao cunhar o termo Filosofia, o amor à Sabedoria, eles já antecipavam o que mais tarde nos seria revelado pelo próprio Deus: a expressão máximo do homem é amar ao Cristo.

A digressão acima é necessária, mas entendo que você se interesse pela Filosofia de forma geral, e não pela Teologia, (que, aliás, é o ramo mais elevado da Filosofia, por estudar justamente o mais elevado dos seres). Por isso, ainda que meu coração prefira falar das verdade eternas, vou tentar me ater à Filosofia.

Agora que você sabe o que deveria ser a Filosofia, ou ao menos o que buscavam aqueles que deram nome a essa ciência, poderá melhor entender as doenças Filosóficas da modernidade. Pois veja, as correntes filosóficas mais populares em nosso século nos dizem: 1. que não há verdades universais, ou 2. que ainda que existam verdades nós não podemos conhecê-las, ou então 3. que tudo o que verdadeiramente existe é o mundo material feito de átomos, partículas subatômicas, ondas e energia. Ora, tudo isso é um absurdo! É a negação do próprio amor pela verdade. Como ousam chamarem-se de filósofos eu não sei. Minha teoria é que seja o artifício do inimigo para confundir os homens. São lobos em pele de ovelha!

Essa doença filosófica é uma só, mas toma vários nomes. Não só o lobo se veste de ovelha, como também troca de pele de tempos em tempos, para confundir o aluno inatento. Na minha própria jornada eu o encontrei com os nomes: materialismo, nominalismo, ateísmo, e niilismo.

O materialismo diz que somente o mundo material verdadeiramente existe. O nominalismo diz que todas palavras que usamos, inclusive aquelas mais elevadas como verdade e liberdade, são apenas etiquetas. O ateísmo nega a existência de Deus, a fonte de tudo. E o niilismo nega abertamente a existência de qualquer valor. Ora minha queridíssima amiga: há apenas um lobo aqui! Negar o mundo espiritual é o mesmo que negar a existência de valores transcendentais, pois se existe algo de eterno, ele se encontra no espírito e não na matéria que passa. Negar o valor de todas as palavras é negar a existência do transcendente. As palavras são muitas vezes signos que apontam para realidades além da matéria, chamá-la de "apenas etiquetas" é negar a realidade daquilo que é extra material. Negar Deus é negar a existência de valores universais, pois sem um Deus não temos um referencial absoluto pelo qual julgar nossas ações. O lobo é ardiloso, mas sua técnica é uma: negar o transcendente e o eterno.

Imagino que você possa estar surpresa com tudo isso: como podem os filósofos, os amantes da verdade, chegarem a negar a própria existência da verdade. Aqui gostaria de apontar que isso é muito comum na modernidade. Lembre-se do seu amigo psicólogo que nega a existência da alma. Ora como?! A psicologia quer dizer literalmente o "estudo da alma", e o psicólogo moderno tem a cara de pau de negar o mundo espiritual.

Aonde quer que eu olhe, a modernidade me parece acometida dessa doença. Um amigo doutor em Matemática, uma vez me disse que a própria matemática, objeto de sua vida de estudo, era uma criação do homem, e que os números eram apenas mais uma dessas coisas que são apenas ideias.

Uma vez apontei a um estudante de sociologia que suas ideias eram baseadas em materialismo filosófico e que negavam a existência de verdade. Perguntei-lhe se era verdade que não haviam verdades e ele disse que sim. Apontei-lhe então a contradição no que ele me dizia, e este rapaz deu os ombros e disse que esse era o paradoxo. "Vida que segue".

Negar a possibilidade de qualquer verdade, aceitar a contradição na raiz de um sistema de ideias, e dar os ombros para isso. Eis a postura que você encontrará no estudo da filosofia moderna. Eis a postura do lobo. É assim que poderás identificá-lo, ainda que ele se disfarce de formas variadas.

A dica acima te servirá de detector de metal ao navegar o campo minado da filosofia na faculdade federal. A todo sistema de ideias que você encontrar, aplique as conclusões do sistema ao próprio sistema. Não encontrei um filósofo moderno que resista a este teste. Kant, Haegel, Marx, Froid, todos são hipócritas, e chegam a recomendações que, se aplicadas a si mesmo, destruiriam os próprios argumentos.

Ainda assim não cheguei aos 3 requisitos que te falei no carro:

• oração constante e fervorosa
• pureza de coração
• amor pela verdade

A terceira condição é aquela que é estritamente necessária, e as duas primeiras são condições para atingi-la. Se fôssemos perfeitos em nosso amor, poderíamos ir direto para a terceira, mas como não somos, as duas primeiras se tornam requisitos. Explicarei mais tarde. Tratarei primeiro a terceira condição.

E me parece que juntando tudo isso, posso propor um caminho:

• 1. Crie o hábito de oração e o mantenha em todos os passo a seguir. Peça sempre pela Sabedoria, que Deus lhe indique o caminho que ele preparou para ti.
• 2. Aprenda a dominar as suas paixões, para que você possa colocar todo seu ser, sua vontade e razão, dispostos à verdade. Se precisar de ajuda nessa etapa, refira ao passo 1.
• 3. Desenvolva as virtudes, ou seja, aprenda, pelo hábito e desenvolvendo o hábito, a exercer as faculdades da sua alma segundo a excelência, a fazer isto com alegria.

A Sabedoria, objeto da busca da Filosofia, é senão uma virtude. Um modo de agir segundo a excelência. E, ensinam meus mestres, as virtudes se desenvolvem em certa ordem: 1. a justiça, 2. a temperança, 3. a fortaleza (persistência), e 4. a sabedoria. Se queres, pela Filosofia, atingir as grandes verdades, é salutar que domine primeiro as outras virtudes.

Me parece que quanto melhor o plano acima for executado, maior proveito tirarás da Filosofia, ou de qualquer outro empreendimento a que te puseres.

E por final, quando fordes justa e reta, virtuosa e sábia, coloque todo o seu ser à disposição de Deus. Este é o motivo e a direção, o princípio e o fim, de toda a busca filosófica. De fato, de toda o projeto humano, de toda a busca pela felicidade. O homem foi feito para amar e servir a Deus, mas por conta do pecado ele falha em seu propósito. E para que possa servir inteiramente ao Deus todo poderoso e infinitamente amável, é que se faz necessário dominar as paixões, agir conforme a excelência, desenvolver a Sabedoria, e uma vez verdadeiramente mestre de si mesmo, dedicar cada respiro do espírito às obras de Deus. Amém e Aleluia! Aleluia! Aleluia! Pelos séculos dos séculos, aleluia irmã!

Se tiveres dúvida sobre quaisquer ponto que mencionei, podes me falar. Em minha vida busquei nos estudos por propósito e verdade, e tenho alegria de semear o que melhor achei em minhas leituras. Entendo que Deus preparou um caminho para cada um, e que pode ser muito bem que o seu precise passar por outros escritores, que não os meus estimadíssimos Aristóteles, Santo Agostinho, e Santo Tomás. Entendo ainda, que pode ser justamente a minha predileção a estes pensadores que a afaste deles. Os planos de Deus são misteriosos! Que posso eu fazer? Me pareceu justo preparar esse texto, ainda que seja apenas para que você saiba que tem com quem falar quando o assunto é propósito e verdade.

Peço também a Deus que caso minha exposição não tenha sido clara, que Ele te envie outros que te expliquem melhor. Todas estas coisas que aprendi pela Filosofia me parecem boas, e gostaria de passá-las adiante, e temo que eu não tenha a calma de expô-las na hora e na ordem adequada. Que nenhuma alma se perca, Senhor, pelos meus textos mal elaborados.

Que o Senhor esteja sempre contigo, minha cara amiga. Que o próprio Verbo te instrua o coração, e que o Espírito de Deus te conceda as virtudes necessárias para completar a tua busca.

Juarez