Quotes tirados do livro "O Peregrino Russo"

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De jeito algum; para receber a iluminação espiritual e tornar-se um homem interior, é preciso apenas tomar qualquer texto da Sagrada Escritura e nele concentrar toda a atenção o maior tempo possível. É assim que se descobre a luz da inteligência. Para rezar, é necessário fazer a mesma coisa: se queres que tua oração seja pura, reta e benfazeja, é preciso escolher uma oração curta, feita com palavras curtas, mas fortes, e repetir essa oração durante muito tempo e muitas vezes. É assim que se toma gosto pela oração.

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Como assim? Conta-me, eu te peço, para a glória de Deus e em honra da poderosa oração de Jesus.

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Meu Deus! pensava eu. Que maravilhosos efeitos do poder divino se descobrem através dessa oração! Que relato edificante e profundo; as varas ensinaram esse garoto a rezar e lhe deram a felicidade! As desgraças e as tristezas que nós encontramos no caminho da oração não são as varas de Deus? Então, por que temer, se é a mão de nosso Pai Celestial que acena com elas para nós? Ele tem um amor infinito por nós: essas varas nos ensinam a rezar de maneira mais ativa e nos proporcionam alegrias inefáveis.

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Perdoe-me, em nome de Deus. Eu tagarelei demais e os Padres da Igreja declaram que uma conversa, mesmo que seja sobre assuntos espirituais, se se prolongar excessivamente — é só vaidade.

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Eu o desejo de todo o coração, meu amado irmão no Senhor, respondeu o meu mestre. Que a graça superabundante de Deus ilumine teus passos e caminhe contigo, como o anjo Rafael com Tobias.

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nossos contemporâneos sentem freqüentemente no fundo de si mesmos, a par dos homens de todos os tempos, uma profunda necessidade de verdade absoluta, de beleza perfeita e de beatitude infinita. Ocorre então que lhes chega, como ao peregrino russo e freqüentemente graças a ele, o chamado de São Paulo: Orai sem cessar!

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Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim, pecador

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"O Nome, por sua forma exterior, é limitado, mas representa um objeto ilimitado, Deus, de quem recebe um valor infinito, divino, o poder e as propriedades de Deus". É a doutrina da Tradição.

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"Todo desejo e todo pensamento de orar é obra do Espírito Santo". Que este mesmo Espírito guie os passos do que procuram o Caminho, a Verdade e a Vida!

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Glória e ação de graças ao Pai Santíssimo, pela sua bondade em todas as coisas por ele coordenadas como melhor lhe parece, mas sempre para o nosso bem, nós que somos peregrinos e estrangeiros em terra estrangeira.

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se diante de tal mistério da natureza, a pessoa se entregasse à oração, suplicasse a Deus e se aconselhasse com homens espirituais, esse irresistível "frenesi", como diziam os médicos, não poderia, em definitivo, triunfar.

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como partir após ter ouvido os sinos, sem ir à igreja?

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Deus não precisa de nossas orações de homens pecadores, mas, apesar de tudo, em seu amor por nós, ele quer que rezemos.

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"Nenhum bem de qualquer espécie, por mais insignificante que seja, será desprezado pelo Juiz imparcial. Se os pecados devem ser examinados com minúcia tal, a ponto de termos de dar contas de toda palavra, desejo ou pensamento, quanto mais os atos bons, por mínimos que sejam, serão levados em consideração e pesarão diante de nosso Juiz cheio de amor!"

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Contou a história dessa visão para benefício espiritual de outros

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Por esse motivo deparamo-nos muitas vezes com desgraças e calamidades de que o Amor infinito da Providência divina se serve para nosso crescimento espiritual e para erguer nossos corações a Deus

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Leveza, ardor e alegria demonstram que Deus nos recompensa e nos consola pelo nosso esforço, ao passo que insensibilidade, esmorecimento e frieza significam que Deus purifica e fortifica a alma, e,através desta provação salutar, a salva, preparando-a, na humildade, para as alegrias que virão.

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Meu caro amigo, grande parte do que escreveste é totalmente fútil. Escuta. Antes de tudo, não confesses nunca os pecados já acusados e perdoados. Esquece-te deles; seria pôr em dúvida o sacramento da penitência. A seguir, não rememores as outras pessoas associadas a teus pecados; julga-te apenas a ti mesmo. Em terceiro lugar, os santos Padres proíbem-nos de mencionar todas as circunstâncias dos pecados, e aconselham confessá-los em termos gerais, de modo a afastar a tentação tanto de nós mesmos quanto do padre. Em quarto lugar, vieste para arrepender-te e não te arrependeste por não saberes arrepender-te; quer dizer: tua penitência é morna e negligente. Em quinto lugar, tu te detiveste em minúcias; o mais importante, porém, foi omitido: não expuseste os pecados mais relevantes: não confessaste, nem escreveste que não amas a Deus, que odeias teu próximo, que não crês no Verbo de Deus e que tu mesmo só és orgulho e ambição. O mal se enraíza nesses quatro pecados, origem de toda a nossa depravação espiritual. São as raízes mestras de onde brotam todos os pecados nos quais caímos.

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Aquele que ama alguém, nele pensa sem interrupção, cria na mente a sua imagem, zela por ele e em nenhuma circunstância o ser amado sai de seus pensamentos.

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(texto de um pecador que não ama a Deus)

Sou insaciavelmente curioso pelas novidades e acontecimentos políticos; procuro, com empenho, satisfazer meu amor às ciências e às artes.

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(ainda sobre o pecador sincero)

Sou todo orgulho e egoísmo, pleno de amor sensual por mim mesmo. Todas as minhas ações o confirmam. Descobrindo algo bom em mim, desejo logo realçá-lo, vangloriar-me diante dos outros ou de mim mesmo, para me satisfazer com este bem. Embora simule uma humildade exterior, o atribuo a méritos meus e considero-me superior aos outros ou, pelo menos, não pior do que eles. Se reconheço uma falta em mim, procuro justificá-la e encobri-la, apresentando motivos deste teor: "Nasci assim" ou "ninguém tem o que me censurar". Irrito-me contra aqueles que não me tratam com respeito e considero-os incapazes de apreciar o valor das pessoas. Vanglorio-me de meus dons; considero os fracassos de meus empreendimentos como um insulto pessoal. Sinto prazer com as desventuras de meus inimigos. Se me esforço por fazer alguma boa ação, é com fito de me favorecer com certa honraria, é busca de uma satisfação espiritual ou consolação terrena. Em resumo, continuamente faço de mim um ídolo ao qual sirvo sem interrupção, procurando em cada coisa um alimento para minhas paixões e cobiças.

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Sobre os remédios:

tens a fé, não podes amar; se não és um convicto, não podes amar e, para chegar a esta convicção, é preciso que tenhas um total e exato conhecimento do problema. Pela meditação, pelo estudo da Palavra de Deus e pela observação de tuas próprias experiências, deves despertar em tua alma uma sede, um anseio ou, como alguns denominam, uma "admiração" que suscita um insaciável desejo de tudo conhecer mais de perto e mais profundamente, a fim de assimilar sua natureza.

"Ó Deus, tornai-me capaz de vos amar agora, como no passado amei o pecado"

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É como um devedor insolvente, pedindo a seu credor — amigo seu — não somente que lhe perdoe a dívida, mas tenha ainda piedade da sua extrema pobreza e lhe conceda a esmola. Eis o que exprimem estas palavras profundas: "Tende piedade de mim".

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"A alma que vive interiormente unida a Deus torna-se, de tão intensa que é sua alegria, uma criança simples e boa, que não condena ninguém — grego, pagão, judeu ou pecador, — mas vê a todos com o mesmo olhar purificado, encontra alegria no mundo inteiro e deseja que todos louvem a Deus — gregos, judeus e pagãos"

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A vida cristã que se resume na oração. Estou convencido de que a oração é c meio de salvação, mais importante e mais necessário e o dever primordial de todo cristão. A oração é o primeiro passo na vida espiritual, é-lhe também o complemento, e, por esse motivo, o evangelho manda-nos rezar continuamente. Aos outros atos de piedade é reservado um tempo próprio, mas para a oração não há tempo inoportuno. Sem oração, é impossível fazer bem feito o que quer que seja e, sem os evangelhos, não podes aprender convenientemente como rezar. Assim sendo, todos aqueles que alcançaram a salvação por meio da vida interior, os santos pregadores do Verbo de Deus, como também os ermitões e os enclausurados, enfim, todos os cristãos, tementes a Deus, receberam seus conhecimentos através de sua constante e incansável penetração nas profundezas da Palavra de Deus e na leitura do evangelho. Muitos dentre eles traziam sempre os evangelhos nas mãos e, em seus ensinamentos sobre a salvação, davam este conselho: "Refugiai-vos no silêncio de vossa cela, lede e relede o evangelho". Eis, pois, o motivo pelo qual me prendo ao evangelho exclusivamente.

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Gosto de ouvir falar da oração mais que de qualquer outra coisa, por isso, ficaria realmente feliz de conhecer todo este desenrolar secreto de ensinamentos sobre a oração, com todas as suas minúcias. Pelo amor de Deus, mostrai-me tudo isso, no próprio evangelho.

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Agora, disse ele, abre, para começar, o evangelho de são Mateus, capítulo 6 e lê os versículos 5 a 9. Como podes ver, temos aqui a preparação ou a introdução, ensinando que não é por vaidade e ruidosamente, mas num lugar solitário e na tranqüilidade, que devemos nos colocar em atitude de oração. Mostra-nos que é preciso rezar unicamente para o perdão dos pecados, e a comunhão com Deus, sem acrescentar quantidade de pedidos inúteis, pedidos de coisas temporais, como fazem os pagãos. Continua a ler o mesmo capítulo, do nono ao décimo quartoversículo; aí encontrarás a forma da oração — isto é, em que termos ela deve ser expressa. Descobrirás, reunidos com muita sabedoria, todos os elementos necessários e desejáveis para nossa vida. Depois, passa a ler os versículos 14 e 15 do mesmo capítulo, e verás as condições necessárias para uma oração eficaz. Porque, se não perdoarmos àqueles que nos fizeram mal, Deus não perdoará os nossos pecados. Passa agora para o capítulo 7, e encontrarás, nos versículos 7 e 9, o modo de obter o fruto da oração, esperar audaciosamente — "pedi, buscai, batei". Essas expressões fortes descrevem a freqüência da oração e a urgência em praticá-la, de tal modo que a oração não somente acompanhe todas as ações, mas precede-as. Essa é a qualidade essencial da oração. Disso terás uma perfeita imagem no capítulo 14 de são Marcos, dos versículos 32 ao 40, onde o próprio Jesus Cristo repete freqüentemente as mesmas fórmulas de oração. São Lucas, capítulo 11, versículo 5 a 14, dá um exemplo semelhante de oração repetida na parábola do amigo noturno e na petição reiterada da viúva importuna (Lc 18,1), apresentando o mandamento de Jesus Cristo que nos manda rezar sempre, em todo tempo e lugar, e sem nos entregarmos ao desânimo, isto é, à preguiça.

Após essa minuciosa explicação, é no evangelho de são João que nos é ministrado o ensinamento essencial sobre a oração secreta e interior do coração. Em primeiro lugar, é-nos apresentado no profundo relato do colóquio de Cristo com a samaritana, onde nos é revelada a adoração interior, em espírito e em verdade; o que Deus deseja é a verdadeira oração contínua, essa que, como uma água viva, jorra na vida eterna (Jo 4,5-25). Mais adiante, no capítulo 15, versículos 4-8, são-nos descritos, com maior precisão ainda, o poder, as possibilidades e a necessidade da oração interior — isto é, da atenção do espírito ao Cristo, à incessante lembrança de Deus. Por fim, lê os versículos 23 a 25, no capítulo 14 do mesmo evangelho. Atenta para o mistério que aí nos é revelado. Podes ver que a Oração do nome de Jesus Cristo, conhecida sob o nome de a Oração de Jesus — isto é, "Senhor Jesus Cristo, tende piedade de mim" — freqüentemente repetida, possui imenso poder e muito facilmente abre o coração e o santifica. Podemos observá-lo com toda a clareza, no episódio dos apóstolos que tinham sido discípulos de Jesus por um ano inteiro e dele já tinham recebido a oração dominical, isto é, o "Pai nosso"; e é através deles que nós a conhecemos. Entretanto, no fim de sua vida terrena, Jesus Cristo lhes revelou o mistério que ainda faltava em sua oração. Para que essa pudesse dar um passo decisivo para a frente, disse-lhes ele: "Até agora, nada pedistes em meu nome. Em verdade, em verdade vos digo, tudo o que pedirdes ao Pai, em meu nome, ele vo-lo concederá". E foi o que aconteceu para eles: quando os apóstolos aprenderam a rezar em nome de Jesus, quantas maravilhas realizaram! que luz abundante lhes foi prodigalizada! Percebeste agora o encadeamento, a plenitude do ensinamento sobre a oração dispostos com tanta sabedoria no santo evangelho? E, se continuares assim, pela leitura das epístolas, aí encontrarás também o mesmo ensinamento progressivo.

Para completar as notas que já te dei, vou indicar-te diversas passagens que ilustram as qualidades da oração. Por exemplo: nos Atos, a prática é ali descrita — isto é, o diligente e constante exercício da oração pelos primeiros cristãos, iluminados que foram pela sua fé em Jesus Cristo (At 4,31). Os frutos da oração são-nos indicados, os resultados da oração contínua, isto é, a efusão do Espírito Santo e seus dons àqueles que o imploram. Verás algo semelhante no capítulo 6, do versículo 25 ao 26. Segue depois, por ordem, as epístolas e verás:

  1. O quanto a oração é necessária em todas as circunstâncias (Tg 5,13-16).
  2. Como o Espírito Santo nos ajuda a rezar (Jd 20-21 e Rm 8,12).
  3. Como devemos, todos nós, rezar em espírito (Ef 6,18).
  4. O quanto a calma e a paz interior são necessárias à oração (Fl 4,6-7).
  5. Como é necessário orar sem cessar (l Ts 5,17).
  6. Finalmente, observamos que não se deve rezar somente por nós mesmos, mas também por todos os

homens (l Tm 2,1-5).

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em são Mateus, vemos a preparação, a introdução à oração, a verdadeira força da oração, suas condições e assim por diante. A seguir, em são Marcos, encontramos exemplos; em são Lucas, parábolas, e em são João, a prática da oração e seus resultados; nas epístolas apostólicas e no próprio Apocalipse, encontramos diversos aspectos do ato de oração.

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TODO A história do pecador que se converteu. Roubava e vivia na imundice, por anos a fio, sendo agraciado pela sorte, e voltando a roubar. Que teve um sonho, encontrou o peregrino, e foi salvo pela Oração de Jesus.

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Reza como puderes, desta ou daquela maneira, mas reza.

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Com uma prova tão evidente da misericórdia de Deus, e baseado em vossa educação, seria imperdoável entregar-vos ao desânimo, ou mesmo, admitir que penetre em vossa alma a sombra de uma dúvida a respeito da proteção e socorro de Deus.

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mas este mesmo Verbo de Deus, que impõe os mandamentos, oferece também os meios não somente de cumpri-los, mas, até mesmo, de neles encontrar satisfação.

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Pelo amor de Deus, fazei-me ouvir, de vossos próprios lábios, algo para o meu bem, sobre este mistério salvador da santa oração, oração esta da qual desejo ouvir falar mais do que tudo no mundo,

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porque todas as virtudes possuem uma interdependência, e devem, por conseguinte, fortalecer-se mutuamente, completar-se, e uma incentivar a outra, da mesma forma como os raios do sol não revelam sua força e não acendem uma chama, se não forem concentrados num único ponto sob a lente. De outro modo, "aquele que for infiel nas pequeninas coisas, o será também nas grandes".

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na realidade, orar significa dirigir sem interrupção o pensamento e a atenção à lembrança de Deus, caminhar em sua presença, despertar em si seu amor, pensando nele, e associar o nome de Deus à sua respiração e às pulsações de seu coração.

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"Pedi e recebereis". Os apóstolos não podiam, por méritos próprios, despertar em seu interior a perfeição da fé, mas pediram-na a Nosso Senhor: "Senhor, aumentai a nossa fé". Eis como a obtemos; este exemplo mostra que a adquirimos pela oração.

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se alguém obedece a toda a Lei mas desobedece a um deles, torna-se culpado da transgressão da Lei inteira" (Tg 2,10).

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Como cumprir as obras prescritas pela Lei de Deus, quando o homem se sente sem forças e sem nenhuma possibilidade de cumprir os mandamentos? Não terá condições de fazê-lo, até que se decida a pedi-la, até que reze para obtê-la. "Não tendes, porque não pedis"

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De tudo quanto foi dito, conclui-se que a salvação do homem depende da oração, e, por isso, ela é primordial e necessária, pois, através dela a fé é vivificada e as boas obras se realizam. Numa palavra, com a oração tudo se processa com êxito; sem a oração, não podemos praticar ato algum de piedade cristã.

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A verdadeira oração apresenta suas condições. Deve ser oferecida com espírito e coração puros, zelo ardente, rigorosa atenção, com temor e respeito, com a mais profunda humildade.

Não podemos, em nossas preces, manifestar as propriedades essenciais da verdadeira oração.

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O homem não pode adquirir a fé sem oração; essa asserção aplica-se, igualmente, às boas obras. Mas a autêntica oração não está em seu poder. Que lhe resta, então, fazer?

Deus confiou à vontade e à força do homem o número de orações

É, portanto, o número de orações que é assinalado ao homem; a freqüência da oração pertence a ele e encontra-se sob a oscilação de sua vontade.

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São Gregório, o Sinaita, ensina-nos: "Lembrai-vos disso: ninguém pode, por si mesmo, dominar seu espírito. Assim sendo, quando surgem maus pensamentos, invocai o nome de Jesus muitas vezes, com intervalos freqüentes, e os pensamentos se apaziguarão!"

Que contraste com os conselhos da razão teórica que se esforça com presunção por atingir a pureza através de esforços pessoais.

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Não ouçais as insinuações daqueles que, inexperientes e insensatos, alegam que a invocação tíbia é uma repetição inútil, até mesmo monótona. Não: o poder do nome divino e sua invocação freqüente produzirão frutos a seu tempo.

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O coração que foi instruído a respeito da oração interior pode sempre invocar o nome de Deus sem ser impedido por ocupação física ou mental, e apesar de qualquer ruído (aqueles que afirmam isso, sabem-no por experiência, e os que não sabem devem aprendê-lo por um exercício progressivo).

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Em qualquer lugar onde vos encontrardes, podeis erguer um altar a Deus, pelo pensamento. Desse modo, é oportuno rezar no meio de vossos negócios, em viagem, em pé a um balcão ou sentado diante de um trabalho manual. Por toda parte e em todos os lugares é possível rezar e, se realmente uma pessoa concentra sua atenção em si mesma, encontrará por toda parte circunstâncias favoráveis à oração, se estiver convencida, por pouco que seja, que a oração deve constituir sua ocupação essencial e passar à frente de qualquer outro dever

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A solução de vosso problema não constitui dificuldade alguma se consideramos que as pessoas que rezam continuamente dividem-se em três categorias: em primeiro lugar, os principiantes; em segundo lugar, os já iniciados; em terceiro lugar, os muito habilitados. Os principiantes conseguem, de tempos em tempos, elevar o pensamento e o coração a Deus e repetir curtas orações com os lábios, mesmo durante um trabalho mental. Os que já fizeram progresso e atingiram certa estabilidade mental podem exercitar-se em meditar ou escrever na presença ininterrupta de Deus. Eis uma imagem que vos esclarecerá: suponhamos que um monarca severo e exigente vos ordene escrever um tratado a respeito de um assunto abstrato, em sua presença, diante de seu trono. Embora possais estar todo entregue a vosso trabalho, a presença do rei, que exerce poderio sobre vós e que tem a vossa vida entre as mãos, não vos deixará esquecer um só instante que pensais, refletis e escreveis não na solidão, mas num local que exige de vós uma atenção e um respeito particulares. Essa consciência da proximidade do rei exprime muito claramente ser possível aplicar-se à oração interior permanente, até mesmo durante um trabalho intelectual. Quanto àqueles que um antigo hábito ou a graça de Deus fez progredirem da oração mental à do coração, esses não interrompem sua oração contínua, durante os exercícios intelectuais mais freqüentes, nem mesmo durante o sono.

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E ficamos sabendo, por experiência, que, através do ato exterior do jejum corporal, realizamos o aprimoramento interior do espírito, a paz do coração, encontramos um instrumento para domar as paixões e um aguilhão do esforço espiritual.

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"Ama e faze o que quiseres", diz o bem-aventurado Agostinho, porque aquele que ama realmente, nada pode querer fazer que desagrade ao amado".

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Nada pode dominar melhor os pensamentos inúteis do que a oração.

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Lembram-nos ainda que, se somos preguiçosos e negligentes para orar, não podemos realizar progresso algum nos atos de piedade nem na obtenção da paz e da salvação e, por conseguinte, sofreremos, inevitavelmente, os tormentos não só na terra como na vida por vir.

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o meio eficaz e mais fácil de desfazer-se da preguiça e da indiferença pela oração consiste na descoberta, com o auxílio de Deus, da doçura e da imensidão do amor divino, ao qual a oração permitirá corresponder.

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os teólogos, nesses casos, previnem contra o excesso ou a ânsia de prazer espiritual, mas não reprovam, de modo algum, a alegria e o consolo da virtude.

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Se o desejo de recompensa não é a perfeição, Deus, entretanto, não proibiu ao homem pensar na alegria e no consolo, e ele próprio utiliza a idéia de recompensa para incitar os homens a cumprirem os mandamentos e alcançar a perfeição.

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Por esse motivo, não há, e nunca houve povo ou tribo bárbara desprovidos de um mínimo de conhecimento de Deus. Por causa desse conhecimento, o mais selvagem insulano, sem nenhum estímulo exterior, volta, por assim dizer, espontaneamente sua atenção para os céus, cai de joelhos, suspira por algo que não compreende, e tem o vivo sentimento de que uma força o atrai para o alto, e o impele para o infinito. É o fundamento de todas as religiões naturais.

Todo desejo humano, todo empreendimento, toda ação têm como fito a satisfação do amor de ser, a busca da plenitude pelo homem.

O Criador, infinito conhecedor de todas as coisas, dotou a natureza do homem de uma aptidão ao amor de ser, precisamente como uma "solicitação", para usar a expressão dos Padres da Igreja, que erguerá o ser humano decaído até o contato das coisas celestes. Ah! se o homem não tivesse deturpado essa aptidão, se tão-somente a tivesse conservado em sua excelência, com sua natureza espiritual, segundo sua vocação, disporia de um meio eficaz para ser conduzido no caminho da perfeição espiritual. Infelizmente, muitas vezes ele transforma essa nobre tendência em paixão egoísta, quando dela faz o instrumento de sua natureza animal.

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Visto de longe, tudo nos parece desejável. Mas aprendemos, através da experiência, que qualquer situação, apesar de ter vantagens, apresenta seus inconvenientes. A história da vida ascética fornece-nos muitos exemplos, mostrando queinúmeros anacoretas e eremitas totalmente afastados da sociedade humana, foram vítimas de ilusão e sérias seduções.

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É preciso também levar em conta esta verdade: aquele que busca, tendo boa vontade e sendo cheio de zelo, pode obter informações úteis da parte de qualquer pessoa. Sim, os santos Padres nos garantem que, se questionarmos com fé e com intenção reta, mesmo um sarraceno, dele podemos ouvir palavras proveitosas. Se, no entanto, pedirmos conselhos a um Profeta, mas o fizermos sem fé e sem reta intenção, ele não nos poderá satisfazer.

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Quando uma pessoa sente frio, pode criar, mentalmente, uma idéia viva do calor, embora o calor não possua contornos, não seja visível nem medido pela sensação física daquele que se encontra exposto ao frio. Do mesmo modo, a presença espiritual e incompreensível de Deus pode ser conhecida pelo espírito e constatada no coração, em meio a uma absoluta ausência de formas.

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Nicetas Stétatos diz que, mesmo que tenhais sucumbido e estejais mergulhados nas profundezas diabólicas do mal, não deveis desesperar- vos, mas voltar logo para Deus, e ele reerguerá prontamente vosso coração da queda e dar-vos-á uma força superior àquela que tínheis antes

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a simples caridade sentimental, no mundo, é sempre limitada por ser pequenina a porção dos benefícios concedidos, ao passo que a pessoa que concede benefícios, baseada em suas próprias experiências interiores, por possuir meios convincentes de realização espiritual, torna-se benfeitor de nações inteiras.

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Se colocarmos de um lado as ações desta vida e, do outro, o silêncio, verificamos que ele altera, em proveito próprio, o equilíbrio da balança.

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Mas o preceito mais evidente sobre a oração pelos outros é dado pelo apóstolo Tiago: "Confessai uns aos outros os vossos pecados e orai uns pelos outros para que sejais curados. A oração fervorosa do justo tem grande poder".

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ela dá testemunho da humildade espiritual daquele que faz o pedido, e parece, por assim dizer, estimular o espírito daquele que reza. Eis o que encoraja a mútua intercessão.

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"Misericordioso Deus, seja feita a tua vontade. Tu que desejas que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade, salva e socorre teu servo N… Aceita este desejo que exprimo como um grito do amor que ordenaste".

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Vosso modo de ver e vos sos argumentos, a conversa edificante e os pensamentos que ela desperta são tais, que me sinto empenhado em guardá-los cuidadosamente na minha memória, e expressar-vos todo o respeito e reconhecimento de meu coração.

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Que o Deus da paz, que ressuscitou dentre os mortos aquele que se tornou, pelo sangue de uma aliança eterna, o grande Pastor das ovelhas, Nosso Senhor Jesus Cristo, vos torne aptos a cumprir sua vontade em toda espécie de bem, que ele realize em nós o que lhe for agradável, por Jesus Cristo, ao qual seja dada a glória pelos séculos dos séculos. Amém

Date: 2023-05-25 qui 00:00

Author: Juarez Sampaio

Created: 2023-12-14 qui 10:16

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